Imane Khelif e Lin Yu-ting, envolvidas em polêmica internacional, comemoram ouro no boxe feminino em Paris

Após boatos questionando seu gênero, Imane Khelif afirma ser uma “mulher como qualquer outra”

Imane Khelif, lutadora de boxe feminino da Argélia, e Lin Yu-ting, do Taiwan, foram pivô de uma polêmica internacional. Desclassificadas do Campeonato Mundial de 2023 por reprovarem nos testes de gênero feitos pela Associação Internacional de Boxe (IBA), elas foram liberadas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) para participar das Olimpíadas de Paris em 2024, gerando muitos debates nos jornais e redes sociais. 

Vencedora em todos os duelos, a argelina ganhou a final contra a chinesa Yang Liu, no dia 9 de agosto, por decisão unânime dos juízes, e se sagrou campeã do peso meio-médio.

A taiwanesa, por outro lado, também terminou a competição invicta e conquistou o título olímpico. No dia 10 de agosto, ela venceu a polonesa Julia Szeremeta e conquistou o ouro no peso-pena.

Polêmica envolve cromossomos

Após o COI liberar Imane e Lin para lutar, diversas pessoas passaram a protestar e a questionar o gênero delas. Argumentando sobre a desclassificação promulgada pela IBA em 2023, boatos passaram a alegar que as pugilistas seriam transexuais, ou seja, nasceram homens e passaram por uma cirurgia para se tornarem mulheres.

A polêmica ganhou ainda mais repercussão depois da primeira luta de Imane, contra a italiana Angela Carini. No caso, a europeia desistiu da luta após apenas 46 segundos do 1° round, aflorando os boatos. Porém, posteriormente, Carini afirmou que sua desistência não teve relação com essa polêmica, e sim porque não conseguia respirar, por conta de golpes no nariz. 

Se elas são realmente mulheres, por que foram desclassificadas, então? De acordo com o presidente da IBA, Umar Kremlev, elas foram excluídas por apresentarem “nível de testosterona elevado” e terem cromossomos XY. Vale ressaltar que ele não apresentou provas concretas disso. 

No entanto, a grande questão é que existem casos em que os cromossomos não definem o sexo de alguém. Há mulheres cis XY e homens cis XX, quando diagnosticados com a síndrome Swyer ou por serem intersexo (caso da judoca brasileira Edinanci Silva). Já no caso da produção excessiva de testosterona, isso ocorre por problemas de saúde, como a síndrome dos ovários policísticos.

Dessa forma, ambas foram liberadas a lutar porque o Comite Olímpico Internacional (COI) usou as mesmas regras de elegibilidade do boxe em Paris que foram aplicadas nas Olimpíadas de 2016 e 2020, e estas não incluem testes de gênero.

Conflito entre COI e IBA acirra debate

Desde que o COI baniu a IBA, em 2023, as federações estão em constante conflito. Sendo assim, o Comitê Olímpico utiliza regras diferentes da IBA, que não organiza mais o torneio olímpico de boxe. Nestas Olimpíadas, a Paris Boxing Unit foi a responsável pela organização das lutas da modalidade.

Além disso, tal questionamento da IBA sobre o gênero das atletas pode ser considerado uma “novidade”. Isso porque Imane foi vice-campeã mundial em 2022 e Lin é bicampeã, levando o título em 2018 e 2022 do campeonato organizado pela associação, o que leva ao questionamento do porquê as pugilistas estavam liberadas para lutar durante todo esse tempo e só foram excluídas pela IBA em 2023.

Imane se posiciona

Imane Khelif ficou visivelmente afetada com as críticas e questionamentos. Seu pai, inclusive, chegou a mostrar sua certidão de nascimento à imprensa francesa.


Imane Khelif chorando após se classificar para as semifinais do boxe feminino nas Olimpíadas. (Vídeo: reprodução/X/@Paulalvessilva)

Depois da conquista do ouro, a argelina se defendeu das pessoas que a criticaram:

“Sou uma mulher como qualquer outra. Nasci mulher e vivi como mulher, mas há pessoas que são inimigas do sucesso e que não conseguem suportar o meu. Agora, sou campeã olímpica e estou muito feliz.”, declarou a campeã olímpica.

O triunfo foi a primeira medalha de ouro de boxe feminino conquistada pela Argélia na história – a modalidade faz parte das Olimpíadas desde os Jogos de Londres, em 2012.

Foto Destaque: Imane Khelif comemorando a conquista da medalha de ouro do peso meio-médio. Reprodução/X: @inesmorsantos

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